quinta-feira, 11 de julho de 2013

Síndrome de Dubin-Johnson

O síndrome de Dubin-Johnson (DJS) é uma patologia hepática hereditária, caracterizada clinicamente por hiperbilirrubinemia crónica predominantemente conjugada, e histopatologicamente por deposição de pigmento preto-acastanhado nos hepatócitos.

A prevalência na população geral é desconhecida. O DJS afeta indivíduos de todas as origens étnicas mas é mais frequente em judeus iranianos ou marroquinos nos quais, devido a mutações fundadoras, foi descrita como ocorrendo em até 1/1,300 indivíduos.

Os doentes apresentam durante a adolescência ou na idade jovem adulta icterícia recorrente ligeira a moderada sem prurido, frequentemente desencadeada por doença intercorrente, gravidez, contracetivos ou drogas. Dor abdominal e fadiga são por vezes observadas durante os surtos, podendo estar presente hepatosplenomegalia em casos raros. A bilirrubina sérica total (principalmente na forma conjugada: a proporção da bilirrubina sérica conjugada para total é de 50-80%) está elevada, normalmente entre 2 a 5 mg/dl (muito raramente até 20 mg/dl). As atividades das enzimas hepáticas, (i.e. aminotransferases, fosfatase alcalina e gama-glutamil transpeptidase), a concentração total de ácidos biliares, os níveis da albumina e o tempo de protrombina são normais. Foi observada uma associação com a deficiência do fator VII de coagulação (ver este termo), especialmente nos judeus iranianos e marroquinos. Os estudos histológicos revelam uma deposição de pigmento granular preto-acastanhado típica no citosol dos hepatócitos, maioritariamente na área centrolobular, sem outras anomalias histológicas.
Transmissao eTratamento

O DJS é transmitido de forma autossómica recessiva e é causado por mutações em homozigotia no gene ABCC2. O gene ABCC2 codifica um transportador da membrana apical, dependente de ATP, que controla o efluxo de bilirrubina-glucuronídeos e outros aniões orgânicos conjugados do hepatócito para a bílis.

O diagnóstico deve ser suspeitado em doentes que exibem hiperbilirrubinemia conjugada isolada (i.e. sem alterações nas atividades das enzimas hepáticas) na ausência de qualquer condição séptica, anomalia ecográfica do fígado ou medicamento potencialmente interferente. Neste contexto, o padrão característico de excreção da coproporfirina urinária (i.e. uma proporção elevada de coproporfirina I (superior a 80%) com um nível normal de coproporfirina total) é normalmente diagnóstico para DJS. A cintigrafia biliar com 99mTc-HIDA, mostrando atraso da ou não visualização da vesícula biliar e ductos biliares e visualização prolongada do fígado pode também ser útil. O diagnóstico definitivo pode ser obtido através da análise molecular do gene ABCC2. Apesar dos estudos histológicos permitirem um diagnóstico definitivo, a biopsia hepática não é sistematicamente realizada considerando a natureza invasiva do procedimento juntamente com prognóstico benigno da doença.

O principal diagnóstico diferencial é outra forma de hiperbilirrubinemia sobretudo conjugada, síndrome de Rotor (RT; ver este termo).

Não existe tratamento curativo para a DJS, ainda que a administração de fenobarbital a curto prazo tenha sido descrita como reduzindo os níveis séricos de bilirrubina em alguns casos.

O DJS é uma doença benigna e o prognóstico para os doentes é bom, enfatizando a necessidade de um diagnóstico correto para evitar procedimentos de diagnóstico, tratamento e seguimento desnecessários. Não é observada progressão para insuficiência hepática, cirrose ou fibrose hepática.

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