segunda-feira, 17 de junho de 2013

Doença de Refluxo Gastro-Esofágico

A doença do refluxo gastro-esofágico (DRGE) é uma doença do aparelho digestivo que envolve o esófago, o tubo que transporta os alimentos da boca para o estômago.
Na DRGE, o ácido e as enzimas digestivas do estômago refluem para o esófago, sendo este fluxo retrógrado do suco gástrico denominado “refluxo”. Os sucos gástricos inflamam o revestimento do esófago provocando azia e outros sintomas. Se a DRGE não for tratada pode lesar permanentemente o esófago.
Um anel muscular chamado “esfíncter esofágico inferior” separa o esófago do estômago e, normalmente, apenas se abre quando engolimos, permitindo a entrada dos alimentos no estômago. Durante o resto do tempo, o esfíncter mantém-se contraído para evitar que os alimentos e o ácido do estômago recuem para o esófago.
Na maior parte das pessoas com DRGE, o esfíncter esofágico inferior não se encerra firmemente e permanece relaxado entre as deglutições, permitindo que o suco digestivo entre no esófago e irrite o revestimento deste órgão.
Existem muitos factores que podem enfraquecer ou relaxar o esfíncter esofágico inferior, incluindo:
·         Tabaco
·         Álcool
·         Gravidez
·         Obesidade (por aumento da pressão dentro do abdómen)
·         Determinados alimentos
·         Muitos medicamentos
·         Hérnia do hiato (deslizamento de parte do estômago para a região acima do diafragma, o músculo que separa o tórax do abdómen)
Uma exposição prolongada ao ácido pode fazer com que o esófago:
·         fique inflamado
·         diminua de calibre (fique estreitado)
·         desenvolva uma úlcera.
A exposição ao ácido pode conduzir a longo prazo a uma doença denominada “esófago de Barrett”, que aumenta o risco de cancro do esófago.

Prevenção
Existem diversas medidas que podem ser adoptadas para prevenir os sintomas da DRGE. Algumas alterações simples do estilo de vida incluem:
·         Elevação da cabeceira da cama pelo menos 7,5 cm; se possível, podem ser colocados blocos de madeira sob as pernas da cama do lado da cabeceira ou utilizada uma cunha de espuma compacta sob o colchão do lado da cabeceira; a utilização simples de almofadas suplementares pode não proporcionar alívio
·         Evitar os alimentos que provocam relaxamento do esfíncter durante a digestão, incluindo:
o    café
o    chocolate
o    alimentos gordos
o    leite gordo
o    menta ou hortelã-pimenta (Mentha piperita e Mentha spicata)
·         Limitar a ingestão de alimentos ácidos que agravam a irritação quando são regurgitados, incluindo os citrinos e os tomates
·         Evitar as bebidas gaseificadas, pois as eructações de gás forçam a abertura do esfíncter esofágico e promovem o refluxo
·         Ingerir refeições mais pequenas e mais frequentes
·         Não se ir deitar logo depois de comer. Não deve comer durante três a quatro horas antes de se deitar
·         Se fumar, deixar de o fazer
·         Evitar beber álcool, pois este provoca o relaxamento do esfíncter esofágico inferior
·         Perder peso se for obeso; a obesidade pode dificultar a manutenção do esfíncter esofágico encerrado
·         Evitar usar vestuário apertado; o aumento da pressão no abdómen pode abrir o esfíncter esofágico inferior
·         Utilizar comprimidos ou pastilhas elásticas para produzir saliva
As pessoas com DRGE durante mais de cinco anos devem ser testadas para identificar a presença de um esófago de Barrett. Se esta situação for encontrada, é aconselhável a realização de endoscopias com intervalos regulares, de modo a que eventuais alterações cancerosas possam ser identificadas e tratadas quando o cancro se encontra nos seus estádios mais precoces.

Tratamento
O tratamento para a maior parte das pessoas com DRGE inclui as alterações do estilo de vida descritas na secção anterior, bem como medicamentos caso necessário. Se os sintomas persistirem, os tratamentos cirúrgicos ou endoscópicos constituem opções adicionais.
Medicamentos
Existem diversos medicamentos que podem ser utilizados para tratar a DRGE, incluindo:
·         Inibidores da bomba de protões — Os inibidores da bomba de protões interrompem a produção de ácido pelo estômago e são muito eficazes no alívio dos sintomas. Estes medicamentos bloqueiam a produção de ácido de forma mais potente do que os bloqueadores H2, embora demorem mais tempo a iniciar o seu efeito.
·         Bloqueadores H2 — Estes medicamentos, que incluem a famotidina, a cimetidina e a ranitidina, fazem com que o estômago produza menos ácido. A dose de medicamento a tomar dependerá da gravidade dos sintomas.
·         Protectores da mucosa — Estes medicamentos revestem, suavizam e protegem o revestimento esofágico irritado; o sucralfato é um exemplo.
·         Anti-ácidos de venda livre — Estas substâncias tampão neutralizam o ácido. As formas líquidas destes medicamentos actuam mais rapidamente, mas os comprimidos são mais cómodos. Os antiácidos que contêm magnésio podem causar diarreia e os que contêm alumínio podem causar obstipação. O médico pode aconselhar o doente a alternar os antiácidos para evitar estes problemas. Estes medicamentos resultam em alívio sintomático durante períodos curtos e não cicatrizam a inflamação do esófago.
·         Medicamentos que aumentam a motilidade — Estes medicamentos podem ajudar a diminuir o refluxo esofágico, pois ajudam o estômago a esvaziar-se mais rapidamente e, como tal, diminuem o tempo durante o qual pode ocorrer refluxo. No entanto, não são muito eficazes por si só e geralmente são usados em combinação com outras classes de medicamentos.
Cirurgia
A cirurgia constitui uma opção para as pessoas com sintomas de DRGE graves e difíceis de controlar, podendo igualmente ser considerada para as pessoas que têm complicações, tais como asma ou pneumonias, ou tecido cicatricial no esófago. Algumas pessoas que não querem tomar medicamentos durante períodos prolongados podem também optar pela cirurgia.
A cirurgia anti-refluxo pode ser realizada utilizando instrumentos orientados por uma câmara (cirurgia laparoscópica), o que requer incisões de menores dimensões do que a cirurgia convencional.
Num procedimento denominado fundoplicatura de Nissen, o excesso de tecido do estômago é enrolado em volta do esófago e suturado nessa posição de forma a aumentar a pressão em volta do esfíncter esofágico inferior enfraquecido. Esta operação parece aliviar os sintomas de forma quase tão eficaz como os medicamentos bloqueadores da acidez gástrica sujeitos a prescrição médica. As taxas de sucesso da cirurgia podem ser mais baixas nas pessoas cujos sintomas não são aliviados pelos medicamentos antiácidos. Após a cirurgia, algumas pessoas apresentam efeitos secundários desagradáveis e prolongados (como dificuldade em engolir, diarreia e incapacidade para eructar – “arrotar” – ou vomitar para aliviar o enfartamento ou náuseas), mas a maior parte dos indivíduos ficam muito satisfeitos com os resultados.
Tratamentos endoscópicos
Foram desenvolvidos três novos tratamentos para fortalecer o esfíncter esofágico inferior utilizando um endoscópio:
·         sutura (plicatura)
·         aquecimento (procedimento de Stretta)
·         injecção do esfíncter com um material que promove um aumento de volume (procedimento de Enteryx)

Como estes tratamentos foram desenvolvidos recentemente, as suas taxas de sucesso a longo prazo são ainda desconhecidas e sabe-se pouco sobre as suas potenciais complicações.

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