Cancro (português europeu) ou Câncer (português brasileiro), é uma doença caracterizada por uma população de células que cresce e sedivide sem respeitar os limites normais, invade e destrói
tecidos adjacentes, e pode se espalhar para lugares distantes no corpo, através
de um processo chamado metástase.
Estas propriedades malignas do câncer o diferenciam dos tumores benignos, que são
auto-limitados em seu crescimento e não invadem tecidos adjacentes (embora
alguns tumores benignos sejam capazes de se tornarem malignos). O câncer pode
afetar pessoas de todas as idades, mas o risco para a maioria dos tipos de
câncer aumenta com o acréscimo da idade. O câncer causa cerca de
13% de todas as mortes no mundo, sendo os cânceres de pulmão, estômago, fígado, cólon e mamaos que mais matam.
Médicos
do Egito antigo (3000 a.C.) registraram
doenças que, dadas suas características, provavelmente podiam ser classificadas
como câncer. Hipócrates (377 a.C.) também descreveu enfermidades que se
assemelhavam aos cânceres de estômago, reto, mama, útero, pele e outros órgãos.
Portanto, a presença do câncer na humanidade já é conhecida há milênios. No
entanto, registros que designam a causa das mortes como câncer passaram a
existir na Europa apenas a partir do século XVIII. Desde então,
observou-se o aumento constante nas taxas de mortalidade por câncer, que
parecem acentuar-se após o século XIX, com a chegada da
industrialização.
Quase
todos os cânceres são causados por anomalias no material
genético de
células transformadas. Estas anomalias podem ser resultado dos efeitos de carcinógenos, como o tabagismo, radiação, substâncias químicas ou agentes infecciosos. Outros tipos
de anormalidades genéticas podem ser adquiridas através de erros na replicação do DNA,
ou são herdadas,
e conseqüentemente presente em todas as células ao nascimento. As interações
complexas entre carcinógenos e o genoma hospedeiro podem explicar porque
somente alguns desenvolvem câncer após a exposição a um carcinógeno conhecido.
Novos aspectos da genética da patogênese do câncer, como a metilação do DNA e os microRNAs estão cada vez mais sendo reconhecidos como
importantes para o processo.
As
anomalias genéticas encontradas no câncer afetam tipicamente duas classes
gerais de genes. Os genes promotores de câncer,oncogenes, estão geralmente
ativados nas células cancerígenas, fornecendo a estas células novas
propriedades, como o crescimento e divisão hiperativa, proteção contra morte celular programada,
perda do respeito aos limites teciduais normais e a habilidade de se tornarem
estáveis em diversos ambientes teciduais. Os genes supressores de tumor estão geralmente
inativados nas células cancerígenas, resultando na perda das funções normais
destas células, como uma replicação de DNA acurada, controle sobre o ciclo celular, orientação e
aderência nos tecidos e interação com as células protetoras do sistema imune.
O
câncer é geralmente classificado de acordo com o tecido de qual as células
cancerígenas se originaram, assim como o tipo normal de célula com que mais se
parecem. Um diagnóstico definitivo geralmente requer examinação histológica da biópsia do tecido por umpatologista,
embora as indicações iniciais da malignidade podem ser os sintomas ou anormalidades nas imagens radiográficas. A maioria pode ser
tratada e alguns curados, dependendo do tipo específico, localização e estadiamento. Uma vez
diagnosticado, o câncer geralmente é tratado com uma combinação de cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Com o desenvolvimento
das pesquisas, os tratamentos estão se tornando cada vez mais específicos para
as diferentes variedades do câncer. Ultimamente tem havido um progresso
significativo no desenvolvimento de medicamentos de terapia específica que agem
especificamente em anomalias moleculares detectáveis em certos tumores,
minimizando o dano às células normais. O prognóstico para os pacientes com
câncer é muito influenciado pelo tipo de câncer, assim como o estadiamento, a
extensão da doença. Além disso, a graduação histológica e a
presença de marcadores moleculares específicos podem também ser úteis em
estabelecer o prognóstico, assim como em determinar tratamentos personalizados.
Prognóstico
O
câncer possui a reputação de ser uma doença mortífera. Enquanto isso é verdade
para alguns tipos particulares de câncer, as verdades por trás das conotações
históricas do câncer estão cada vez mais sendo superadas pelos avanços no
cuidado médico. Alguns tipos de câncer possuem prognóstico que é
substancialmente melhor que outras doenças não-malignas como a insuficiência cardíaca e AVC.
Uma
doença maligna progressiva e disseminada possui um impacto substancial na
qualidade de vida do paciente, e muitos tratamentos de câncer (como a quimioterapia) podem ter efeitos
colaterais severos. Nos estágios avançados do câncer, muitos paciente precisam
de cuidado extensivo, afetando membros da família e amigos.
Os
pacientes com câncer, pela primeira vez na história da oncologia, estão
visivelmente retornando para suas vidas normais. Pacientes estão vivendo mais tempo
com a doença persistente, mas silenciada ou mesmo com a completa remissão. As
histórias como a de Lance Armstrong, que ganhou o Tour de France após o tratamento de um câncer testicular metastático ou de Tony Snow,
que estava trabalhando como secretário de imprensa da Casa Branca dos Estados Unidos
apesar de seu câncer de cólon,
continuam a ser uma inspiração para pacientes com câncer em todo mundo.
Tratamento
A
dificuldade do tratamento do cancro consiste em fazer a distinção entre as
células malignas e as células normais do corpo. Ambas são provenientes da mesma
origem e são muito semelhantes, daí não haver reconhecimento significativo por
parte do sistema imunitário da ameaça.
Cirurgia
Se
a massa for bem delimitada e minimamente invasiva, a resecção cirúrgica é possível, mas já é impossível se o tumor estiver
espalhado por todo o corpo, ou em orgãos vitais que não podem ser cortados.
Muitas vezes é dificil para o cirurgião determinar a margem em que acaba a
neoplasia e começa o tecido normal, correndo o risco de cortar demasiado tecido
normal e reduzir a probabilidade de sobrevivência do doente à operação, ou não
retirar a massa cancerosa na totalidade, diminuindo a probabilidade de
sobrevivência ao cancro.
A
cirurgia é então apenas usada no tratamento dos tumores que ainda estão
delimitados, por resecção ou retirando o orgão completo (prostectomia no cancro
da próstata, mastectomia no da mama). Contudo se o tumor invadir estruturas
adjacentes que não podem ser resectadas (e.g. uma artéria importante) o tumor é
irressectável.
Quimioterapia
Baseia-se
no fato de as células tumorais se dividirem muito mais rápido que as células
normais. O doente recebe medicamentos (injetáveis; por via oral; em cavidades
como a bexiga, o espaço intratecal, o espaço pleural ou o abdômen) que
interferem com a síntese do DNA e matam as células em divisão. Contudo, poderão
acontecer efeitos secundários (colaterais) naquelas células normais de
crescimento rápido, como a mucosa gastrointestinal (diarreia, náuseas, vómitos), folículos pilosos
(queda do cabelo)
e outros. Mais recentemente, existe uma nova classe de medicamentos chamada de
anticorpos monoclonais, que, por terem um alvo molecular específico na célula
cancerígena, têm como vantagem serem menos tóxicos para as células normais. Os
anticorpos monoclonais podem ser utilizados sozinhos ou em conjunto com as
quimioterapias.
Radioterapia
Também
ataca células de crescimento rápido. As células tumorais, como têm défice de
proteínas reparadoras do DNA, são mais vulneráveis a doses de radiação de alta
energia (raios X e gama). As suas doses letais são mais baixas que as das
células normais. No entanto além de efeitos secundários semelhantes aos da
quimioterapia, há risco de desenvolvimento de novos tumores, apesar de
relativamente pequeno.
Terapia hormonal
O
crescimento de alguns cânceres pode ser inibido ao se fornecer ou bloquear
certos hormônios. Exemplos comuns de tumores sensíveis a hormônios incluem
certos tipos de câncer de mama e próstata. Remover ou bloquear o estrógeno ou testosterona é frequentemente um
tratamento adicional importante. Em certos cânceres, a administração de agonistas
hormonais, como progestágenos podem ser benéficos
terapeuticamente.
Novas técnicas
Ultimamente
têm sido desenvolvidos alguns fármacos específicos que
diminuem a actividade de algumas proteínas (traduzidas de oncogenes) cuja alta
actividade é importante na proliferação de alguns tipos de cancro.
A leucemia mieloide
crónica é
inclusivamente curável através da administração desse novo tipo de fármacos. No
futuro estes fármacos deverão ser mais relevantes.
A
utilização de toxinas acopladas a anticorpos específicos de proteínas membranares comuns na
superfície das células do tumor mas não de células normais também tem tido
algum sucesso.
Terapias alternativas
Terapias
alternativas ou não-ocidentais são frequentemente escolhidas por muitos
pacientes cujo prognóstico é sombrio e os custos elevados. No entanto, não há
prova alguma de que essas terapias melhorem o prognóstico. Apesar de também não
serem geralmente nocivas, elas podem ser efectuadas por quem acreditar
paralelamente ao tratamento convencional de opiáceos.
Se
for escolha do paciente informado, e apesar de provavelmente não terem nenhum
efeito directo, as terapias alternativas poderão ter um efeito placebo, ou seja, o doente
acredita que vai melhorar e está comprovado que pacientes mais optimistas e
lutadores têm melhor curso da sua doença que os derrotistas. Substituir o
tratamento convencional pelo alternativo seria no entanto altamente
desaconselhável, já que a medicina moderna já consegue melhorar o prognóstico e
até curar muitas formas de cancro, e é impossível dizer ao certo como reagirá
um doente à terapia convencional.
Entretanto,
devemos pensar sempre no paciente. Se a neoplasia maligna já foi tratada com
cirurgia, quimioterapia e radioterapia e não mostrou melhoria, os médicos têm o
dever de procurar novas estratégias. Muitos consideram a imunoterapia e a
hipertermia como medidas complementares dignas de crédito. Existem muitos
trabalhos científicos de bom nível que atestam a eficácia de tais estratégias.
Por outro lado, muitas pessoas se curam de tumores usando a fitoterapia. Na
verdade muitos medicamentos da medicina convencional foram sintetizados a
partir de princípios ativos encontrados no reino vegetal e de uso empírico. Há,
ainda, muitos outros que são tratados e curados com estratégias psicoterápicas
e até com acupuntura. O paciente tem o
direito de escolha e o médico o dever de oferecer alternativas sérias, já
estudadas e seguras
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