segunda-feira, 17 de junho de 2013

Doença de Gaucher

A doença de Gaucher é uma doença hereditária (genética) que pode lesar muitas partes diferentes do corpo. A lesão ocorre quando um tipo de gordura ? o glucocerebrósido ? se acumula em determinados órgãos. Normalmente, temos uma enzima ? a glucocerebrosidase ? que elimina esta gordura prejudicial, mas as pessoas com doença de Gaucher não produzem esta enzima em quantidade suficiente. A doença de Gaucher causa habitualmente um aumento de volume do fígado e do baço (hepatomegalia e esplenomegalia, respectivamente), uma contagem baixa de glóbulos vermelhos (anemia) e de plaquetas (trombocitopenia), doença pulmonar, doença óssea e, por vezes, doença cerebral.
Existem três tipos básicos de doença de Gaucher. O tipo 1 causa praticamente todos os sintomas acima indicados, com excepção da doença cerebral. Os tipos 2 e 3 causam todos os sintomas referidos, incluindo os efeitos sobre o cérebro. A doença tipo 2 é a mais grave, com sintomas que têm início antes dos dois anos de idade. Na doença de Gaucher tipo 3, os sintomas podem começar antes dos dois anos, mas são mais ligeiros e agravam-se mais lentamente. Na doença tipo 1, os sintomas surgem habitualmente na idade adulta.
A doença de Gaucher é rara, afectando cerca de uma pessoa em cada 100.000. Em determinados grupos étnicos, como os judeus Ashkenazi, a doença de Gaucher tipo 1 pode afectar até uma em cada 1.000 pessoas. Cerca de 90% das pessoas com doença de Gaucher têm a doença tipo 1, o que faz com que esta seja a forma mais comum.
Os três tipos de doença de Gaucher são causados por uma alteração, ou mutação, num gene denominado GBA, que é responsável pela produção da enzima glucocerebrosidase. A doença de Gaucher é uma doença genética autossómica recessiva, o que significa que as pessoas com a doença herdam duas mutações do gene, uma da mãe e outra do pai. Se não tiver nenhum gene GBA normal, a pessoa não consegue produzir quantidades suficientes de glucocerebrosidase para prevenir a acumulação de gordura anormal. Nos casos em que a pessoa apenas tem uma mutação (herdada do pai ou da mãe, sendo a outra cópia do gene normal) não desenvolve a doença e é chamada “portadora”.
Se ambos os pais forem portadores de uma mutação causadora de doença de Gaucher, cada um dos seus filhos tem uma probabilidade de 25% (ou seja, 1 em 4) de herdar esta doença. Geralmente, os pais não sabem que são portadores do gene. Nalguns grupos étnicos ? como os judeus Ashkenazi ? as pessoas são frequentemente testadas antes de terem filhos para determinar se são portadores.

Prevenção
A doença de Gaucher ocorre quando um bebé herda duas cópias do gene com a mutação que causa esta doença, uma de cada progenitor. Cada um dos pais geralmente tem apenas uma cópia do gene com mutação e, deste modo, não tem doença de Gaucher. Se ambos os progenitores souberem que são portadores de uma mutação, após ter sido identificada a alteração genética por pertencerem a um grupo étnico no qual a doença é frequente ou por serem pais de uma criança com doença de Gaucher, é possível detectar mais precocemente a doença nos descendentes. O teste genético pode ser feito no feto, durante uma gravidez, ou no embrião, antes de ser implantado. Neste último caso, é necessário recorrer a técnicas de reprodução medicamente assistida. Todos os casais que desejem fazer o teste genético para determinar se são portadores de uma alteração genética causadora de doença de Gaucher devem ser enviados a uma consulta de Aconselhamento Genético.
Os cuidados a prestar a uma pessoa com doença de Gaucher passam pela prevenção das complicações da doença.

Tratamento
A doença de Gaucher é causada por níveis baixos da enzima glucocerebrosidase, pelo que o melhor tratamento para prevenir a acumulação de glucocerebrósido consiste na terapêutica de substituição enzimática com uma enzima sintética denominada imiglucerase. A enzima sintética é administrada por via endovenosa, tendo as infusões endovenosas regulares de imiglucerase demonstrado ser seguras e eficazes no que respeita à reversão das contagens de células sanguíneas baixas e do aumento do fígado e do baço. Aproximadamente 10 a 15% das pessoas desenvolvem anticorpos contra a enzima de substituição, embora na maior parte dos casos permaneçam assintomáticas.
Encontra-se disponível um novo tratamento para as pessoas que deixam de responder à terapêutica de substituição enzimática. Este medicamento, que previne a formação de glucocerebrósido, é administrado por via oral (ou seja, engolido) e ajuda a reduzir o aumento de volume do fígado e do baço, fortalece os ossos e pode melhorar igualmente os outros sintomas.
As pessoas com uma doença de Gaucher tipo 1 e tipo 3 vivem durante mais tempo que as pessoas com a doença tipo 2. Ao longo do tempo, as pessoas com os tipos 1 e 3 podem tornar-se resistentes ao efeito dos medicamentos, casos em que pode ser recomendada uma transplantação de medula óssea.

Outros tratamentos podem ajudar a aliviar os sintomas de doença de Gaucher, mas não irão actuar sobre a causa. Por exemplo, a cirurgia para remoção do baço (esplenectomia) é útil em alguns doentes, uma vez que um baço aumentado de volume pode destruir as plaquetas. As transfusões de sangue podem tratar a anemia grave e as dores ósseas podem ser tratadas com medicamentos analgésicos. Por vezes é necessária uma cirurgia de substituição articular. Dos medicamentos que podem ajudar a aumentar a densidade óssea, os mais frequentemente utilizados são os bifosfonatos, tais como a alendronato, o ibandronato e o risedronato.

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