A doença de Gaucher é uma doença hereditária
(genética) que pode lesar muitas partes diferentes do corpo. A lesão ocorre
quando um tipo de gordura ? o glucocerebrósido ? se acumula em determinados
órgãos. Normalmente, temos uma enzima ? a glucocerebrosidase ? que elimina esta
gordura prejudicial, mas as pessoas com doença de Gaucher não produzem esta
enzima em quantidade suficiente. A doença de Gaucher causa habitualmente um
aumento de volume do fígado e do baço (hepatomegalia e esplenomegalia,
respectivamente), uma contagem baixa de glóbulos vermelhos (anemia) e de
plaquetas (trombocitopenia), doença pulmonar, doença óssea e, por vezes, doença
cerebral.
Existem três tipos básicos de doença de Gaucher. O
tipo 1 causa praticamente todos os sintomas acima indicados, com excepção da
doença cerebral. Os tipos 2 e 3 causam todos os sintomas referidos, incluindo
os efeitos sobre o cérebro. A doença tipo 2 é a mais grave, com sintomas que
têm início antes dos dois anos de idade. Na doença de Gaucher tipo 3, os
sintomas podem começar antes dos dois anos, mas são mais ligeiros e agravam-se
mais lentamente. Na doença tipo 1, os sintomas surgem habitualmente na idade
adulta.
A doença de Gaucher é rara, afectando cerca de uma
pessoa em cada 100.000. Em determinados grupos étnicos, como os judeus
Ashkenazi, a doença de Gaucher tipo 1 pode afectar até uma em cada 1.000
pessoas. Cerca de 90% das pessoas com doença de Gaucher têm a doença tipo 1, o
que faz com que esta seja a forma mais comum.
Os três tipos de doença de Gaucher são causados por
uma alteração, ou mutação, num gene denominado GBA, que é responsável pela
produção da enzima glucocerebrosidase. A doença de Gaucher é uma doença
genética autossómica recessiva, o que significa que as pessoas com a doença
herdam duas mutações do gene, uma da mãe e outra do pai. Se não tiver nenhum
gene GBA normal, a pessoa não consegue produzir quantidades suficientes de
glucocerebrosidase para prevenir a acumulação de gordura anormal. Nos casos em
que a pessoa apenas tem uma mutação (herdada do pai ou da mãe, sendo a outra
cópia do gene normal) não desenvolve a doença e é chamada “portadora”.
Se ambos os pais forem portadores de uma mutação
causadora de doença de Gaucher, cada um dos seus filhos tem uma probabilidade
de 25% (ou seja, 1 em 4) de herdar esta doença. Geralmente, os pais não sabem
que são portadores do gene. Nalguns grupos étnicos ? como os judeus Ashkenazi ?
as pessoas são frequentemente testadas antes de terem filhos para determinar se
são portadores.
Prevenção
A doença de Gaucher ocorre quando um bebé herda
duas cópias do gene com a mutação que causa esta doença, uma de cada
progenitor. Cada um dos pais geralmente tem apenas uma cópia do gene com
mutação e, deste modo, não tem doença de Gaucher. Se ambos os progenitores
souberem que são portadores de uma mutação, após ter sido identificada a
alteração genética por pertencerem a um grupo étnico no qual a doença é
frequente ou por serem pais de uma criança com doença de Gaucher, é possível
detectar mais precocemente a doença nos descendentes. O teste genético pode ser
feito no feto, durante uma gravidez, ou no embrião, antes de ser implantado.
Neste último caso, é necessário recorrer a técnicas de reprodução medicamente
assistida. Todos os casais que desejem fazer o teste genético para determinar
se são portadores de uma alteração genética causadora de doença de Gaucher
devem ser enviados a uma consulta de Aconselhamento Genético.
Os cuidados a prestar a uma pessoa com doença de
Gaucher passam pela prevenção das complicações da doença.
Tratamento
A doença de Gaucher é causada por níveis baixos da
enzima glucocerebrosidase, pelo que o melhor tratamento para prevenir a
acumulação de glucocerebrósido consiste na terapêutica de substituição
enzimática com uma enzima sintética denominada imiglucerase. A enzima sintética
é administrada por via endovenosa, tendo as infusões endovenosas regulares de
imiglucerase demonstrado ser seguras e eficazes no que respeita à reversão das
contagens de células sanguíneas baixas e do aumento do fígado e do baço.
Aproximadamente 10 a 15% das pessoas desenvolvem anticorpos contra a enzima de
substituição, embora na maior parte dos casos permaneçam assintomáticas.
Encontra-se disponível um novo tratamento para as
pessoas que deixam de responder à terapêutica de substituição enzimática. Este
medicamento, que previne a formação de glucocerebrósido, é administrado por via
oral (ou seja, engolido) e ajuda a reduzir o aumento de volume do fígado e do
baço, fortalece os ossos e pode melhorar igualmente os outros sintomas.
As pessoas com uma doença de Gaucher tipo 1 e tipo
3 vivem durante mais tempo que as pessoas com a doença tipo 2. Ao longo do
tempo, as pessoas com os tipos 1 e 3 podem tornar-se resistentes ao efeito dos
medicamentos, casos em que pode ser recomendada uma transplantação de medula
óssea.
Outros tratamentos podem ajudar a aliviar os
sintomas de doença de Gaucher, mas não irão actuar sobre a causa. Por exemplo,
a cirurgia para remoção do baço (esplenectomia) é útil em alguns doentes, uma
vez que um baço aumentado de volume pode destruir as plaquetas. As transfusões
de sangue podem tratar a anemia grave e as dores ósseas podem ser tratadas com
medicamentos analgésicos. Por vezes é necessária uma cirurgia de substituição articular.
Dos medicamentos que podem ajudar a aumentar a densidade óssea, os mais
frequentemente utilizados são os bifosfonatos, tais como a alendronato, o
ibandronato e o risedronato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário