segunda-feira, 17 de junho de 2013

Doenças Anais

O canal anal é a zona do aparelho digestivo que atravessa o canal muscular da região pélvica e os esfíncteres anais, com 4 a 5 cm de comprimento nos adultos, sendo o ânus o orifício final através do qual as fezes saem do corpo. A metade inferior do canal anal tem terminações nervosas sensitivas. Existem vasos sanguíneos sob o revestimento e na sua porção média encontram-se numerosas glândulas anais de pequenas dimensões. Este artigo descreve quatro patologias que causam dor e irritação anal:
·         Fissura anal – Uma fissura anal é uma fenda ou laceração no revestimento da parte inferior do canal anal. A maior parte das fissuras anais ocorrem quando fezes volumosas e duras distendem excessivamente a abertura anal e rasgam o revestimento anal. Menos frequentemente, as fissuras anais desenvolvem-se devido a uma diarreia prolongada, a uma doença inflamatória intestinal ou a doença sexualmente transmitida envolvendo a área ano-rectal. As fissuras anais agudas (de curta duração) são geralmente superficiais, enquanto as fissuras anais crónicas (de longa duração) podem ser mais profundas, expondo a superfície do músculo subjacente.
·         Abcesso anal – Um abcesso anal é uma colecção de pus dolorosa, acompanhada de edema, localizada próximo do ânus. A maior parte dos abcessos anais não estão relacionados com outros problemas de saúde e surgem espontaneamente, por razões pouco claras, originando-se numa glândula anal de pequenas dimensões que aumenta de volume até criar uma loca infectada sob a pele. Os abcessos anais ocorrem mais frequentemente em adultos jovens entre os 20 e os 40 anos, sendo mais comuns no sexo masculino. A maior parte dos abcessos anais estão localizados próximo da abertura do ânus mas, raramente, ocorrem numa zona mais profunda ou mais alta do canal anal, próximo da porção inferior do cólon ou dos órgãos pélvicos.
·         Fístula anal – Uma fístula anal constitui uma trajecto anormal,  assemelhando-se a um túnel, que estabelece uma ligação entre a porção média do canal anal e a superfície da pele perto do ânus. A fístula é frequentemente uma estrutura remanescente de um abcesso anal antigo depois de ter sido drenado (quer espontaneamente, quer após ser lancetado por um médico), sendo uma complicação que ocorre pelo menos em metade dos casos de abcessos anais. Por vezes, a abertura da fístula na superfície da pele drena constantemente pus ou um líquido sanguinolento. Noutros casos, a abertura da fístula encerra temporariamente, fazendo com que o abcesso anal antigo reapareça, formando uma bolsa dolorosa cheia de pus.
·         Hemorróidas –  As hemorróidas são vasos sanguíneos dilatados e salientes no canal anal, em redor do ânus (hemorróidas externas) ou dentro do ânus e na porção mais baixa do recto (hemorróidas internas). As hemorróidas habitualmente não causam dor. No entanto, por vezes, os vasos sanguíneos de uma hemorróida pequena situada na margem do orifício anal podem ficar obstruídos por um coágulo (“trombose”), o que pode ser desencadeado por um período de obstipação ou de diarreia. Quando ocorre trombose, a hemorróida externa fica edemaciada, dura e dolorosa, por vezes com um exsudado sanguinolento.

Prevenção
É possível diminuir o risco de fissura anal através da prevenção da obstipação, tornando as fezes mais moles. Para isto, o doente deve aumentar gradualmente a quantidade de fibras na sua dieta, ingerir 6 a 8 copos de água por dia e realizar exercício físico. Os suplementos de fibra actualmente comercializados são eficazes.
Embora nem sempre seja possível prevenir outros tipos de doenças anais, pode diminuir-se o risco destas doenças através das seguintes medidas:
·         utilizando técnicas suaves para limpar a área anal
·         mantendo a área seca, mudando de roupa interior frequentemente e utilizando pó para absorver a humidade
·         utilizando sempre um preservativo no caso da prática de relações sexuais anais
·         nunca inserindo qualquer corpo estranho no ânus.

Tratamento
Uma vez realizado o diagnóstico, o tratamento das patologias anais pode envolver ou não a realização de uma intervenção cirúrgica, dependendo da doença específica. Se a cirurgia for necessária, o médico irá usar uma anestesia apropriada para ajudar a prevenir as dores nesta área muito sensível.
·         Fissura anal – Na fissura aguda, o médico pode recomendar que o doente cumpra as medidas para evitar a obstipação acima descritas (no capítulo da Prevenção) e pode aconselhá-lo a imergir a área anal em água morna durante 10 a 15 minutos diversas vezes por dia (banho de assento) e a aplicar uma pomada na fissura anal (anestésicos tópicos e/ou pomadas que diminuem o espasmo do esfíncter anal). Nas fissuras crónicas, a cirurgia pode corrigir o problema em mais de 90% dos casos.
·         Abcesso anal – Um abcesso anal deve ser aberto ou lancetado por um médico para drenar o pus. Este procedimento (incisão e drenagem), pode geralmente ser realizado em regime de ambulatório, especialmente no caso de o indivíduo ser jovem e saudável e do abcesso se situar próximo do orifício anal.
·         Fístula anal – A cirurgia para abrir o trajecto fistuloso (“fistulotomia”) constitui a terapêutica mais eficaz. O médico abre o trajecto infectado e raspa quaisquer remanescentes do abcesso anal antigo. A ferida é deixada aberta para cicatrizar por segunda intenção. Se a fístula estiver associada à doença de Crohn, o tratamento é dirigido para esta doença, consistindo na administração de medicamentos anti-inflamatórios combinados com um antibiótico.

·         Hemorróidas –   O tratamento geral das hemorróidas consiste em suplementos de fibras para diminuir a consistência das fezes, na imersão frequente em água morna (“banhos de assento”) e na utilização de medicamentos de aplicação local. As hemorróidas sintomáticas, que não cedem com a implementação destas medidas, pode exigir outras intervenções como a laqueação elástica, esclerose ou remoção cirúrgica das hemorróidas. A hemorróida externa trombosada geralmente regride espontaneamente mas o processo pode ser acelerado se o médico realizar uma pequena incisão na hemorróida, de forma a sair o coágulo, sob anestesia local.

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