O canal anal é a zona do
aparelho digestivo que atravessa o canal muscular da região pélvica e os
esfíncteres anais, com 4 a 5 cm de comprimento nos adultos, sendo o ânus o
orifício final através do qual as fezes saem do corpo. A metade inferior do
canal anal tem terminações nervosas sensitivas. Existem vasos sanguíneos sob o
revestimento e na sua porção média encontram-se numerosas glândulas anais de
pequenas dimensões. Este artigo descreve quatro patologias que causam dor e
irritação anal:
·
Fissura anal – Uma fissura anal é uma fenda ou laceração no
revestimento da parte inferior do canal anal. A maior parte das fissuras anais
ocorrem quando fezes volumosas e duras distendem excessivamente a abertura anal
e rasgam o revestimento anal. Menos frequentemente, as fissuras anais
desenvolvem-se devido a uma diarreia prolongada, a uma doença inflamatória
intestinal ou a doença sexualmente transmitida envolvendo a área ano-rectal. As
fissuras anais agudas (de curta duração) são geralmente superficiais, enquanto
as fissuras anais crónicas (de longa duração) podem ser mais profundas, expondo
a superfície do músculo subjacente.
·
Abcesso anal – Um abcesso anal é uma colecção de pus
dolorosa, acompanhada de edema, localizada próximo do ânus. A maior parte dos
abcessos anais não estão relacionados com outros problemas de saúde e surgem
espontaneamente, por razões pouco claras, originando-se numa glândula anal de
pequenas dimensões que aumenta de volume até criar uma loca infectada sob a
pele. Os abcessos anais ocorrem mais frequentemente em adultos jovens entre os
20 e os 40 anos, sendo mais comuns no sexo masculino. A maior parte dos
abcessos anais estão localizados próximo da abertura do ânus mas, raramente,
ocorrem numa zona mais profunda ou mais alta do canal anal, próximo da porção
inferior do cólon ou dos órgãos pélvicos.
·
Fístula anal – Uma fístula anal constitui uma trajecto
anormal, assemelhando-se a um túnel, que estabelece uma ligação entre a
porção média do canal anal e a superfície da pele perto do ânus. A fístula é
frequentemente uma estrutura remanescente de um abcesso anal antigo depois de
ter sido drenado (quer espontaneamente, quer após ser lancetado por um médico),
sendo uma complicação que ocorre pelo menos em metade dos casos de abcessos
anais. Por vezes, a abertura da fístula na superfície da pele drena constantemente
pus ou um líquido sanguinolento. Noutros casos, a abertura da fístula encerra
temporariamente, fazendo com que o abcesso anal antigo reapareça, formando uma
bolsa dolorosa cheia de pus.
·
Hemorróidas – As hemorróidas são vasos sanguíneos
dilatados e salientes no canal anal, em redor do ânus (hemorróidas externas) ou
dentro do ânus e na porção mais baixa do recto (hemorróidas internas). As
hemorróidas habitualmente não causam dor. No entanto, por vezes, os vasos
sanguíneos de uma hemorróida pequena situada na margem do orifício anal podem
ficar obstruídos por um coágulo (“trombose”), o que pode ser desencadeado por
um período de obstipação ou de diarreia. Quando ocorre trombose, a hemorróida
externa fica edemaciada, dura e dolorosa, por vezes com um exsudado
sanguinolento.
Prevenção
É possível diminuir o risco
de fissura anal através da prevenção da obstipação, tornando as fezes mais
moles. Para isto, o doente deve aumentar gradualmente a quantidade de fibras na
sua dieta, ingerir 6 a 8 copos de água por dia e realizar exercício físico. Os
suplementos de fibra actualmente comercializados são eficazes.
Embora nem sempre seja
possível prevenir outros tipos de doenças anais, pode diminuir-se o risco
destas doenças através das seguintes medidas:
·
utilizando técnicas suaves para limpar a área anal
·
mantendo a área seca, mudando de roupa interior
frequentemente e utilizando pó para absorver a humidade
·
utilizando sempre um preservativo no caso da prática
de relações sexuais anais
·
nunca inserindo qualquer corpo estranho no ânus.
Tratamento
Uma vez realizado o
diagnóstico, o tratamento das patologias anais pode envolver ou não a
realização de uma intervenção cirúrgica, dependendo da doença específica. Se a
cirurgia for necessária, o médico irá usar uma anestesia apropriada para ajudar
a prevenir as dores nesta área muito sensível.
·
Fissura anal – Na fissura aguda, o médico pode recomendar que
o doente cumpra as medidas para evitar a obstipação acima descritas (no
capítulo da Prevenção) e pode aconselhá-lo a imergir a área anal em água morna
durante 10 a 15 minutos diversas vezes por dia (banho de assento) e a aplicar
uma pomada na fissura anal (anestésicos tópicos e/ou pomadas que diminuem o
espasmo do esfíncter anal). Nas fissuras crónicas, a cirurgia pode corrigir o problema
em mais de 90% dos casos.
·
Abcesso anal – Um abcesso anal deve ser aberto ou lancetado
por um médico para drenar o pus. Este procedimento (incisão e drenagem), pode
geralmente ser realizado em regime de ambulatório, especialmente no caso de o
indivíduo ser jovem e saudável e do abcesso se situar próximo do orifício anal.
·
Fístula anal – A cirurgia para abrir o trajecto fistuloso
(“fistulotomia”) constitui a terapêutica mais eficaz. O médico abre o trajecto
infectado e raspa quaisquer remanescentes do abcesso anal antigo. A ferida é
deixada aberta para cicatrizar por segunda intenção. Se a fístula estiver
associada à doença de Crohn, o tratamento é dirigido para esta doença,
consistindo na administração de medicamentos anti-inflamatórios combinados com um
antibiótico.
·
Hemorróidas – O tratamento geral das hemorróidas
consiste em suplementos de fibras para diminuir a consistência das fezes, na
imersão frequente em água morna (“banhos de assento”) e na utilização de
medicamentos de aplicação local. As hemorróidas sintomáticas, que não cedem com
a implementação destas medidas, pode exigir outras intervenções como a
laqueação elástica, esclerose ou remoção cirúrgica das hemorróidas. A
hemorróida externa trombosada geralmente regride espontaneamente mas o processo
pode ser acelerado se o médico realizar uma pequena incisão na hemorróida, de
forma a sair o coágulo, sob anestesia local.
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